O Grande Auditório do ISCTE-IUL foi o palco da conferência International Trends for a New Economic World 2022, uma iniciativa conjunta da Agência para o Investimento e para o Comércio Externo de Portugal (AICEP) e do Management & Marketing FutureCast Lab que teve como objetivo dar a conhecer às empresas portuguesas as principais tendências internacionais relacionadas com a internacionalização e prepará-las para um futuro que, apesar de rodeado de incertezas, pode trazer oportunidades importantes.
Coube a Maria de Lurdes Rodrigues, Reitora do ISCTE-IUL, abrir a conferência, referindo-se ao papel que a AICEP desempenha no apoio à internacionalização das empresas portuguesas e salientando a colaboração que o ISCTE pode prestar nessa tarefa. “O ISCTE, como universidade sem muros que se integra no mundo em que trabalha e que, desde a sua génese, foi sempre uma escola virada para o mundo empresarial, pode prestar um serviço relevante às empresas portuguesas. Os contributos das suas múltiplas valências, cada vez mais reforçadas pelo conceito digital que esteve na origem da nova escola de Sintra, devem permitir uma colaboração estreita entre a academia e as empresas, a exemplo do que aconteceu no trabalho desenvolvido entre o FutureCast Lab e a AICEP que hoje é apresentado”, afirmou a reitora.
O estudo desenvolvido baseou-se num modelo de comunicação bidirecional, em que empresas de 11 fileiras de atividade trabalharam em estreita ligação com os investigadores do FutureCast Lab, com os profissionais da AICEP a servirem como fundamental elo de ligação, no sentido de identificarem as áreas em que reconheciam a necessidade de informação mais profunda e atualizada. Foi nessas áreas que foram identificadas as 50 tendências de Gestão e de Marketing (seis delas transversais a todos os setores e as restantes específicas para as empresas de cada fileira) desenvolvidas pelo laboratório.
A intervenção seguinte ficou a cargo de Luís Castro Henriques, Presidente da AICEP, que deixou clara a sua satisfação pela concretização do Projeto Tendências de Gestão e Marketing Internacional, que envolveu não apenas esta conferência, mas, sobretudo, o trabalho de informação e de capacitação desenvolvido pelo FutureCast Lab em parceria com a agência. “Uma das atividades mais relevantes da AICEP passa pela capacitação e pelo desenvolvimento de intelligence para apoiar as empresas portuguesas. Esta ideia estava planeada há mais de um ano e a sua concretização deixa-me muito feliz!”, começou por dizer o responsável da agência.
“De facto, este trabalho conjunto da AICEP e do FutureCast Lab envolveu, desde o início, as empresas. Isso garante uma informação utilitária, prática e tangível ao trabalho desenvolvido. Se as empresas não conhecerem e aplicarem as tendências mais marcantes a nível internacional, certamente irão perder competitividade – e é isso que deve ser evitado a todo o custo!”, explicou Castro Henriques.
Além da identificação e desenvolvimento das tendências de Gestão e de Marketing, este projeto incluiu, ainda, uma dezena de sessões online de capacitação em que os responsáveis das empresas puderam contactar e discutir as mais diversas questões relacionadas com as suas organizações com profissionais de outras áreas, conhecendo de perto casos de sucesso ao nível internacional. “Ao longo dos últimos 15 anos, o AICEP deu sempre uma importância especial à capacitação das empresas portuguesas, organizando cerca de 700 ações nas quais participaram mais de 35 mil profissionais”, afirmou, com justificado orgulho, o Presidente da AICEP.
O que o futuro pode trazer às empresas
Coube a Luiz Moutinho, primeiro português a doutorar-se em Marketing, autor de 36 livros sobre o tema e mentor do FutureCast Lab, falar sobre aquilo que pode vir a mudar nos próximos anos no mundo empresarial, baseando-se no trabalho desenvolvido pelo laboratório para este projeto da AICEP.
No seu estilo apaixonado e disruptivo, envolvendo sempre a audiência, Luiz Moutinho fez na apresentação FutureSchock in International Business um sobrevoo de diversas áreas que há bem pouco tempo pareciam saídas da ficção científica. O académico falou daquilo que poderá ser o trabalho do futuro, indo além do teletrabalho para chegar à telepresença, em que os profissionais estarão virtualmente presentes no seu posto de trabalho através de avatares ou de imagens hologramáticas, do peso cada vez maior que a Inteligência Artificial terá na sociedade, chamando-lhe “o caminho do futuro”, e de outras tecnologias que podem impactar fortemente as empresas, como as plataformas Metaverse, os Digital Twins e a robótica.
Apesar do enorme potencial que estas tecnologias podem ter nos mais diversos setores de atividade, Luiz Moutinho garante que o sucesso das empresas passará sempre pela satisfação do cliente. Na sua opinião, cada vez mais as organizações devem concentrar-se na interação com os consumidores, em lugar de se preocuparem apenas com as questões transacionais. O ideólogo do FutureCast Lab afirma que estamos a assistir ao surgimento do “Consumidor 5.0”, com o qual se tornará necessária a estimulação dos sentidos, eventualmente através de uma Internet dos Sentidos, em que o contacto deixe de estar limitado à visão e à audição para passar a integrar a estimulação do olfato, do tato e até do paladar.
Novas Tendências de Abordagem aos Mercados Internacionais
Vicente Rodrigues, membro do Conselho Científico do FutureCast Lab, deu o enquadramento do projeto de Novas Tendências de Abordagem aos Mercados Internacionais, e lançou um interessante painel de debate moderado por Pedro Dionísio e dedicado ao tema Sustentabilidade e Inovação na Proposta de valor internacional, que contou com a participação de Carla Graça, Chief Digital Officer & International Marketing Manager da Vista Alegre, Rui Miguel Nabeiro, CEO do Grupo Nabeiro-Delta Cafés, Vitor Coelho, Diretor de Public Affairs da Navigator e Carlos Santos, Diretor Geral da Amorim Itália – este em videoconferência desde Itália.
O primeiro tema lançado para a mesa por Pedro Dionísio foi um pedido para que os participantes identificassem aqueles que consideram ser os principais pilares de inovação das suas organizações. Questões como a descarbonização, a circularidade e a sustentabilidade foram salientadas pelos representantes da Navigator e da Amorim, enquanto Carla Graça, da Vista Alegre, referiu a criatividade, a diversidade de produtos, a colaboração (tanto interna como externa) e o savoir faire – ou seja a capacidade de fazer bem. Já Rui Miguel Nabeiro considerou como fundamental a internacionalização, a inovação no seu todo (entenda-se tanto ao nível do produto como dos processos) e a sustentabilidade empresarial. “Mas tudo isto implica inovar, também, ao nível da comunicação e do marketing, para que sejamos capazes de transmitir aquilo que de bom a empresa faz”, acrescentou o CEO do Grupo Nabeiro.
Ainda no que à inovação diz respeito, Vítor Coelho referiu duas vertentes que a Navigator considera muito relevantes: “Por um lado, é preciso não esquecer nunca que as empresas já não podem operar sem transparência e sem ética. Por outro, devemos procurar formas de inovar com os nossos clientes. Os processos de co-criação são excelentes formas de garantir inovação permanente”.
A Amorim Itália, por sua vez, dá uma atenção especial ao papel que os seus colaboradores têm nos processos de inovação. “Entre as medidas tomadas, destaco o facto de termos analisado o perfil de cada trabalhador da empresa para atribuir a cada um a função mais adequada. Além disso, introduzimos os princípios da ciência da felicidade no modelo de gestão, para que a Amorim Itália se tornasse uma organização positiva”, explicou Carlos Santos.
Com base na explicação do Diretor Geral da Amorim Itália, Pedro Dionísio lançou aos outros membros do painel o desafio de falarem um pouco dos processos de inovação interna das respetivas organizações. “No caso da Navigator, temos um compromisso público para a inovação, com métricas que nos permitem avaliar o sucesso de cada medida implementada. Além disso, estimulamos, ao nível interno, a criação de soluções de inovação, tanto ao nível do produto como dos processos. Finalmente, estamos em rede com diversas instituições científicas e universitárias, que nos permitem identificar permanentemente novas formas de inovar”, afirmou Vítor Coelho.
Do lado da Vista Alegre, a inovação interna segue, segundo Carla Graça, duas vertentes principais: “Ouvir e aferir as necessidades e os desejos do mercado e, sempre que possível, ir ao encontro dessas expetativas. Além disso, o grupo dispõe de um gabinete interno de inovação e ter parcerias com várias universidades para identificar novos processos e sugerir novos produtos”.
Já no que diz respeito ao Grupo Nabeiro-Delta Cafés, os caminhos para inovação são muito variados. “Depende do tipo de inovação que se pretende. Quando identificamos um desafio a que pretendemos dar resposta, recorremos à nossa equipa de inovação para lhe responder. Mas também motivamos outro tipo de inovação, uma vez que todos os trabalhadores do grupo têm responsabilidade de inovar, nomeadamente através do programa Mind – um concurso interno de inovação de que já saíram ideias como as bebidas Go Chill e as barras de cereais Croffee, por exemplo. E, finalmente, ainda temos a inovação espontânea, surgida da imaginação de um colaborador, como foi o caso da máquina Rise Delta Q, que injeta o café de baixo para cima, pelo fundo da chávena, intensificando o paladar e os aromas naturais do café”, explicou Rui Miguel Nabeiro.
A terminar o painel, o moderador pediu aos participantes que, baseados nas suas experiências, dessem alguns conselhos às empresas presentes.
Carlos Santos (Amorim Itália): “O primeiro conselho que dou passa pela valorização do capital humano, porque são as pessoas que constroem o sucesso das empresas. O segundo é que apostem na diferenciação, pensando out of the box para se distinguirem da concorrência. O terceiro é que deixem de estar presas a uma filosofia Product Centric para se tornarem Customer Centric. Finalmente, que aprendam a comunicar melhor, com recurso, por exemplo, a storytelling para reforçar a sua brand awareness”.
Vítor Coelho (Navigator): “Logo de entrada, dar atenção às questões com maior impacto na sociedade e no planeta – a sustentabilidade, a circularidade e a descarbonização. Noutra vertente, devem capitalizar os fundos disponibilizados às empresas para se adaptarem ao Novo Normal que estamos a viver. A inovação é uma questão que nunca pode ser esquecida, devendo incluir a colaboração com outras empresas e com institutos e organizações científicas. Mas tudo isto só fará sentido se for bem comunicado – e se for comunicado com recurso a marcas com as quais os consumidores possam identificar-se”.
Carla Graça (Vista Alegre): “No momento atual, as empresas devem ser corajosas e ousadas, para que possam ser verdadeiramente disruptivas. Devem estar abertas à colaboração, seja ela interna ou externa. Devem estar preparadas para diversificar equipas, produtos e processos, de forma a dar resposta aos novos desafios. E, acima de tudo, devem contribuir para um mundo melhor”.
Rui Miguel Nabeiro (Grupo Nabeiro): “Podia dizer que faço minhas as palavras dos oradores anteriores, porque realmente concordo com todos. Mas, além disso, gostaria de salientar outra questão: a marca. Em Portugal temos um problema com as marcas. Temos de ser capazes de as gerir melhor em todos os setores – e também no B2B. Para mim, a minha marca é um contrato entre a minha empresa e o consumidor. Daí que seja fundamental entender que aquilo que nos dá sustentabilidade, enquanto empresas, é a construção da marca”.
O sucesso de um projeto
Coube a Isabel Marques, Diretora de Produto da AICEP Portugal Global, fazer um ponto de situação sobre aquilo que tem sido o Projeto Tendências de Gestão e Marketing Internacional. A responsável da agência começou por salientar o trabalho desenvolvido pelas equipas da AICEP e do FutureCast Lab, mas, sobretudo, a adesão e o empenho das empresas participantes desde o primeiro momento.
“Começando por falar das seis tendências transversais a todas as fileiras desenvolvidas pela equipa do FutureCast Lab, que representaram mais de 120 páginas de conteúdos, incluindo cerca de 30 exemplos nacionais e internacionais de boas práticas, o sucesso do projeto pode ser medido pelas 3 mil visualizações que já tiveram, com um tempo médio de sessão na ordem dos 20 minutos e um total de downloads superior a 500. No que respeita às 44 tendências setoriais, cujas últimas estão ainda a ser divulgadas, representaram mais de 600 páginas de conteúdos, com 150 exemplos de boas práticas, e foram apresentadas, no total, a perto de 9 mil empresas”, descreveu Isabel Marques.
Quanto às ações de capacitação, que visavam preparar as empresas portuguesas para os desafios da internacionalização, o programa decorreu durante cinco meses, com um total de 10 módulos online. “Estes módulos tiveram uma duração total de 32 horas, envolveram 12 docentes e moderadores, contaram com testemunhos de responsáveis de topo de 36 empresas e contaram com a presença de 1095 participantes. Estas sessões foram avaliadas pelos profissionais que nelas estiveram presentes, conseguindo uma avaliação média de 4,6 em 5, com 97,3% dos respondentes a considerarem que tiveram utilidade profissional e 99,8% a afirmarem que recomendariam as sessões a outros decisores de empresas”, recordou, a terminar, a Diretora de Produto da AICEP.
O encerramento da conferência esteve a cargo de Bernardo Ivo Cruz, Secretário de Estado da Internacionalização, que começou por dizer “tudo o que mudou no mundo nos últimos anos deve contribuir para aproximar cada vez mais a ciência, a sociedade e as empresas, porque os desafios só se resolvem com boa ciência. Não sabemos ainda como as empresas vão adaptar-se a um futuro com automação, com digitalização e com Inteligência Artificial, mas temos a certeza de que muita coisa irá mudar e devemos estar preparados para essa mudança”.
O membro do Governo deixou, ainda, uma palavra de apreço sobre o projeto desenvolvido pela AICEP e pelo FutureCast Lab. “O exercício de ter as universidades a trabalhar com as empresas e com as instituições do Estado já começou com este bom exemplo daquilo que todos nós temos que fazer em todas as áreas: pegar na ciência, na economia, nas organizações, no Governo, na sociedade civil e todos nós, juntos, percebermos para onde estamos a caminhar e caminharmos juntos para o futuro que a ciência nos vai indicando”, concluiu Bernardo Ivo da Cruz.